Músicas

Mestres da Paraíba

Tudo começou com o Bando. Um bando que não é apenas um, mas vários. Desde os primeiros músicos que doaram suas canções para serem rearranjadas, aos que foram se juntando ao longo do caminho em parcerias por todo o Brasil, aos amigos atuantes nas mais diversas áreas que colaboraram de diferentes formas para o projeto, aos mestres que foram inspiração ao longo desses oito anos dedicados a resgatar e difundir canções nunca gravadas e conectar ritmos tradicionais brasileiros com a música eletrônica.

No projeto FurmigaDub e Seu Bando, Fabiano Formiga apresenta ao público alguns dos nomes que foram importantes na sua trajetória. De um lado estão aqueles que, por também morarem em João Pessoa, eram figuras presentes no seu dia a dia, como o músico Alex Madureira, a quem Fabiano se refere como seu guru e mestre de guitarra; e o poeta Marinho, personagem conhecido da cidade por seu ativismo urbano. Do outro, aqueles que foram descobertos através de pesquisas, como o grupo de coco de Caiana dos Crioulos, quilombo de mais de 400 anos de resistência liderado por Dona Edite; e aqueles que foram descobertos por acaso, como a artesã de Campina Grande Anita Garyballdi, cuja composição chegou aos ouvidos de Fabiano numa conversa de festa.

Selecionado no programa Rumos Itaú Cultural 2017-2018, o projeto contemplou a gravação de um disco, a realização de um show em João Pessoa, a produção de um site e de quatro mini documentários com cada um desses mestres. O registro não só das músicas, mas de seus autores, era um desejo antigo de Fabiano e de seus colaboradores. A busca para que mestres de cultura popular sejam reconhecidos e tenham suas autorias respeitadas sempre norteou o músico e é um dos motivos pelos quais o seu trabalho tem tanta força e conquista tantos parceiros e admiradores pelo mundo. Há qualidade, autenticidade e, principalmente, honestidade, no que é feito. E, mais do que tudo, um desejo de compartilhar essa produção com o maior número depessoas. Porque não há FurmigaDub sem o Seu Bando, e quanto maior o Bando melhor.

Grave da Mata

O “Grave Da Mata” (2018), primeiro disco de FurmigaDub, é a consolidação de um trabalho sólido de pesquisa cujo resultado é um som único e inovador. O “grave” se refere ao “bass” e a bass music do Brasil, que é bem diferente daquela produzida em outros lugares. O termo “grave brasileiro” é usado por FurmigaDub para definir sua produção, que mistura as batidas e notas graves da música eletrônica com ritmos brasileiros, como o maracatu, coco de roda, xaxado, xote e outros, seguindo os passos de outros adeptos da fusão da música eletrônica com regionalismos, como DJ Dolores, Chico Correa, Maga Bo, Marcelinho da Lua e BID. Com a “mata”, FurmigaDub busca ressaltar a importância das culturas afro e indígena na formação da nossa cultura nacional. “A cultura brasileira nasceu na mata e até hoje muitas das nossas referências são tropicais”, diz.

O álbum “Grave Da Mata” busca valorizar nossas origens e apontar para um futuro que dialogue com essas ancestralidades ao misturar ritmos tradicionais com a música eletrônica. Por outro lado, os temas explorados refletem a vivência no centro da capital paulistana, lugar que o músico escolheu para morar assim que chegou em São Paulo, há dois anos. Morando no prédio do Estúdio Lâmina, espaço localizado no Vale do Anhangabaú que recebe artistas das mais diversas linguagens, FurmigaDub viu sua rotina mudar completamente. Os dias ensolarados e praianos de João Pessoa foram trocados por uma vida noturna agitada e grande interação com grupos e manifestações culturais diversas. Essas trocas influenciaram tanto na sonoridade quanto na escolha dos artistas que colaboraram em suas produções mais recentes. Entre os nomes que fazem parte desse registro, estão Totonho, Laylah Arruda, Mis Ivy, Ingrid Sotero, Aghata Saan e ÀTTØØXXÁ.

Trabalhando com o conceito de riddim, método de produção musical jamaicano, FurmigaDub criou as bases instrumentais das canções e convidou artistas para fazerem as letras em cima. FurmigaDub e Totonho, músico paraibano reconhecido nacionalmente, já eram parceiros de longa data. Mis Ivy e Rafa Dias do ÀTTØØXXÁ se tornaram amigos em viagens pelo Brasil, enquanto Laylah Arruda, Ingrid Sotero e Aghata Saan foram descobertas em shows pela capital paulistana. A forte presença feminina é um dos pontos altos do disco. Além de emprestarem a potência de suas vozes, as cantoras também fortalecem as músicas trazendo suas visões de mundo para um universo extremamente masculino. O disco foi concebido, gravado, mixado e masterizado no Lajedo Estúdio e a arte da capa ficou por conta de Raunny Souza e Thiago Verde, com intervenções poéticas de Ikaro Maxx.